A divulgação da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a popularidade
da presidente Dilma Rousseff é uma boa oportunidade para discutir um
aspecto delas que costuma passar despercebido.
Trata-se de algo evidente: que os resultados das pesquisas dependem das
perguntas que fazemos. Escolhê-las e definir como fraseá-las é uma etapa
decisiva de qualquer uma, pois tende a pré-determinar suas conclusões.
Isso se aplica à redação e à sequência em que as perguntas aparecem nos
questionários. Indagar, por exemplo, sobre o governo após mencionar “os
problemas nacionais” pode induzir o entrevistado a pensar neles ao
responder e a fazer cair a avaliação, o que não ocorre quando são
citados depois de a caracterizar.
Se determinado resultado é esperado, é possível formular o questionário
de modo a que outras perguntas o sublinhem ou enfraqueçam. Quando
destinadas à divulgação, esse é um aspecto fundamental para compreender a
pesquisa e as motivações de seus contratantes.
Tomemos o caso em apreço.
Realizada nos dias 18 e 19 de abril, a pesquisa do Datafolha não trouxe
novidade. Seus resultados foram iguais a vários outros disponíveis.
Mostram o que todos sabíamos – que Dilma vai bem, que seu governo tem
aprovação elevada e bate recorde atrás de recorde, na comparação com
seus antecessores em momento parecido. A pesquisa não poderia, portanto,
provocar comoções no sistema político.
Nada mudou com ela. Depois de a ler, apenas continuamos informados que a
presidente vem ultrapassando situações de desgaste sem arranhões. Que
se mantém a tendência de crescimento da simpatia com que é vista pela
opinião pública.
Esse aspecto da pesquisa – o mais relevante, mesmo que não inédito – perdeu, no entanto, destaque na divulgação. A Folha de São Paulo,
jornal que a contratou, preferiu chamar a atenção para outro tópico:
que, entre Lula e Dilma, a maioria prefere o ex-presidente como
candidato do PT em 2014.
Obviamente, esse resultado só estava disponível porque alguém havia
tomado a decisão de incluir a pergunta no questionário. Para quê?
Talvez para juntar duas coisas conhecidas em uma manchete – que Dilma é
bem avaliada e que Lula é uma pessoa querida pela maioria da população –
parecendo dizer uma novidade.
Mas não são ambas coisas notórias?
O xis da questão é o emprego de uma conjunção adversativa: um “mas”
colocado entre elas. O que a manchete estampava era “Dilma tem aprovação
recorde, mas Lula é favorito para 2014”.
A expressão sugere que nem tudo são flores para a presidente. Que ela
está bem... mas, porém, contudo, todavia, no entanto. Que alguma coisa
tolda seu bom desempenho.
Qual a razão de uma pergunta sobre quem é “o melhor candidato do
partido”? Será que, por Lula estar à frente de Dilma nesse comparação,
seria válido deduzir que o ex-presidente é o “favorito” - em detrimento
dela - no que realmente conta, que são as chances de vencer a próxima
eleição?
Quando, nas pesquisas atuais, os nomes de Lula e de Dilma são
apresentados nos cenários de voto estimulado – frente a possíveis
adversários de diversos partidos – o que se vê é o franco favoritismo de
ambos: Dilma no patamar dos 60%, Lula no dos 70%.
Ou seja, para ganhar a eleição, os dois são favoritos. O que é um
resultado ótimo para Dilma, considerando sua trajetória e o momento que
experimenta. Para Lula, nem se precisa dizer.
A manchete só foi possível por haver no questionário aquela pergunta,
cujo interesse técnico é escasso. Ela só lá estava para ser usada
politicamente.
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