Talvez nesse  grupo composto de meus  pacientes e raros leitores e deste humilde  escriba, eu seja a pessoa mais velha. Quando pensei em escrever o que  vem por aí,  me deu um certo constrangimento por pensar, sei lá talvez  quem sabe, que eu vá me revelar um tanto mais velho do que posso ter  deixado transparecer nesse pouquissimo tempo de existencia do meu blog  Saúva e das minhas experiencias tuiteras. Mas o que tem? E daí? Foi a  resposta que dei a mim mesmo. E garrei do teclado e me danei a digitar  isto e mais isto:
Fatos: dia desses ví na televisão duas  coisas que transbordaram a melancolia que já trago dentro de mim tem  algum tempo. A primeira delas foi para mim uma revelação botanica que,  dada a ausencia de décadas da escola, para mim foi uma total novidade. O  programa era sobre o jardim de Versailles e o sujeito entrevistado, um  sabichão em tudo que é planta, disse que as folhas na verdade não são  verdes. Esse verde que a gente vê nas folhas é da clorofila e que na  ausencia desta a verdadeira cor da folha aparece e geralmente em tons  que vão do amarelo ao marron.
Na mesma hora lembrei do outono, óbvio. E  não foi dificil fazer uma relação com a vida, o tempo, idades.. E me dei  conta de que o outono de minha vida está quem sabe mais perto do que eu  imagino e sendo assim já passou da hora de eu olhar com mais serenidade  para mim mesmo e descobrir a minha verdadeira cor. E que tudo que  passei até agora na minha vida foi pintado apenas superficialmente pelas  circunstancias. O que não faz de mim uma fraude, mas no minimo não é o  que eu sou de verdade. Vem ai um desafio enorme para mim.
A outra coisa eu vi na televisão também.  Zapeando os canais sem nenhum compromisso, esse é meu estilo de ver TV,  parei na TV Cultura programa da Inesita Barroso. Apresentavam-se as Irmãs Galvão e cantaram  uma música chamada Voce Vai Gostar, de Elpidio dos Santos. Meus olhos  marejaram. Sério. Marejaram de uma saudade de não sei bem o que é. E na  tela da TV eram mostrados os rostos do pessoal da plateia que, vocês  sabem, é composto na sua maioria de gente idosa. E eu via esse pessoal  cantar refletindo em seus olhos a mesma coisa que eu acho que eu  refletia nos meus: crepusculo. E me lembrei de Rubem Alves que em uma de  suas lindas cronicas fala sobre as cores da manhã e do entardecer. E  ele faz uma analogia muito bacana lembrando que o crepusculo é sinal de  que a noite já vem, e isso nos torna mais sábios e nos faz absorver as  coisas mais lentamente, mais alegremente.
Nessas alturas me sinto inseguro sobre o  que estou escrevendo. As palavras são umas brincalhonas, deixam-se ver  mas não se deixam pegar. E embora eu tenha certeza do que penso e com  quais palavras eu deveria dize-lo, as danadas fogem no exato minuto em  que meus dedos haveriam de prende-las aqui nessa tela.
Mas vejo cores, as das folhas que não são  verdes e sim amarelas e marrons, as da casinha branca da música de  Elpidio Santos e as do crepusculo do Rubem Alves e me alegro no meio  delas.
Mas talvez a minha melancolia venha do fato  de que não sei das cores de vocês. Queria saber. Completaria assim a  aquarela da minha vida.
Fiquem em paz,
Jonas

