Desde que começou o julgamento desta
tal ação 470 muito se falou sobre abundancia de provas ou sobre a ausência
delas. Da mesma maneira muitas opiniões se formaram, favoráveis ou não, sobre
alguns procedimentos adotados pela Corte que vão desde a discrepância a
respeito da urgência urgentíssima de se votar esta ação e não a outra que trata
deste mesmo assunto com a única diferença
que são outros os atores, até a alçada
para o julgamento de alguns dos acusados que não usufruem de foro privilegiado.
Mas tá! Justificativas mil foram
dadas e embora não tenha convencido uma boa parte da população o fato é que as
coisas estão acontecendo do jeito que estão e não há mais o que se fazer.
Ressalte-se o tal do domínio do
fato, fartamente utilizado agora, que pressupõe que em uma escala hierárquica não
importa de que tamanho e nem mesmo de seu alcance geográfico, ou seja, nem que
os fatos ocorram a milhares de quilômetros do topo da hierarquia, segundo o
argumento do domínio do fato, todo mundo tem que saber o que se passa com seus
subordinados.
E o mais esdruxulo de tudo é a convicção proclamada de que o chefe de alguem que cometeu um crime está automaticamente comentendo o mesmo crime entre quatro paredes sem provas e nem testemunhas!
Pretendem assim que a Dilma escarafunche as gavetas, e-mails e telefones de seus ministros, e seus ministros monitorem todos os atos de seus secretários, e seus secretários toda a
equipe que por sua vez tem que controlar de perto prestadores de serviços e
assim vai. Ou seja, todo mundo tem que vigiar todo mundo todo tempo. Vinte e
quatro horas! Sobra tempo pra trabalhar?
E nem uma palavra sobre
auditorias, corregedorias, fiscalizações e outros tantos instrumentos criados
pelo Estado e mantidos pela população para que tais coisas não aconteçam, ou ao
menos, para que tais coisas sejam descobertas na sua nascente. Lembremo-nos que
todos os fatos do “maior caso de corrupção de todos os tempos” vieram a publico
apenas por conta de uma delação. Que se não tivesse acontecido, nada teria
acontecido.
Não é hora dos áulicos da moral e
dos bons costumes, estes que estão sentados à direita do STF, começarem a
debater sobre os mecanismos de vigilância, que pelo que se vê estão absolutamente
furados?
Uma parte considerável dos
mosqueteiros da moralidade ocupam cargos legislativos e vive o dia-a-dia das
arrecadações para campanhas, dos acordos para votações, das coligações
partidárias, e cadê, da parte deles, alguma manifestação de surpresa de que tal
coisa tenha acontecido sob suas próprias barbas? Logo eles, sempre tão zelosos
e atentos nos cuidados com a coisa publica? Nunca ouviram e nem viram nada tão
gigantesco e atentatório a Republica pelos corredores de seus gabinetes?
Deixa pra lá. Falemos de outra coisa.
O que me surpreende, acho que
surpreende a todos nós, é a precisão cronológica deste julgamento. Tudo
montado, acertado e combinado, para que a parte que tratará de Zé Dirceu e
Genoino aconteça exatamente na reta final das eleições.
Tamanha sintonia entre
procedimentos e calendário eleitoral só aconteceu no sequestro de Abilio Diniz,
em 1989, (cuja historia pode ser relembrada aqui) e que serviu para que Lula perdesse as
eleições presidenciais daquele ano.
O ódio contra o PT não cedeu um milímetro
desde então, mesmo tendo o PT demonstrado com sobras que não há motivo algum para
tanto ódio, aliás pelo contrário.
A mesma mídia, os mesmos agentes políticos
daqueles tempos e dessa vez um novo
parceiro – o STF – se prestam, nos dias de hoje, a desonrar de maneira
criminosa uma agremiação politica e todos os seus eleitores. Querem mesmo, e pelo que esta parecendo vão
conseguir, apagar da história politica do Brasil um dos melhores momentos de
nossa Republica.
Pois é disso que se trata. Não é
o julgamento de um punhado de pessoas envolvidas em delitos. O que estão
julgando e condenando é um ex-presidente da republica, sua sucessora, todos os
militantes afiliados de um partido – que já passa de um milhão de pessoas – e as
dezenas de milhões de brasileiros que aprovam a linha de governo do PT.
Ninguém precisa consultar mãe
Dinah para prever as manchetes na
quinta, sexta, sábado e domingo que estamparão com toda a certeza frases
pinçadas ditas pelos ministros da Corte, em especial do escalafobético Joaquim
Barbosa, inquisidor tucano-midiático, na condenação de Zé Dirceu e Genoino,
transformadas em verdades contra todos os integrantes, simpatizantes e eleitores do partido.
Destaque especial talvez seja a
revista Veja que dessa vez poderá oferecer, encartado na sua edição de sábado,
um saquinho com sangue, para que seus leitores brindem a “condenação de todo o PT em especial do Lula”
e não de duas dezenas de pessoas que cometeram crimes.
Lamentável que seja usado de
maneira tão leviana um dos pilares do nosso país que é o STF.
Estão usando a Justiça como a
Igreja Católica usou um dia – e ainda usa – o nome de Deus para matar.
Estão
usando um dos instrumentos mais caros da Republica do mesmo jeito que muitos presidentes norte
americanos e seus satélites usam o nome da democracia para derrubar governos e matar milhões de pessoas mundo
afora.
Vai se escrevendo um momento
muito negro da nossa República. Este sim indigno de figurar nos livros de
história.
Tomara que consigamos superar.
Tomara que um grito ensurdecedor de basta! venha das urnas no domingo com a
eleição da maioria dos candidatos progressistas.
E que na próxima segunda possamos
perceber que entre os escombros da democracia parcialmente abalada, a nossa
esperança está intocada.
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