Enquanto nosotros acá nos quedamos a debater
sobre como proteger a tal da liberdade de expressão, eis que de repente, essa
gentil senhora é violentada justamente pelo ator menos suspeito dessa conversa
toda: justamente o ícone mais aclamado da internet tido como o baluarte maior
da liberdade de expressão multinacional, o Google.
Deu-se o seguinte.
Dizem por ai que um filme de produção muito tosca
e que ironiza o profeta Maomé, apresentando-o como idiota, reacendeu o ódio já
tantas vezes declarado de grande parte do povo islâmico contra os Estados
Unidos. O tal vídeo produzido nos Estados Unidos foi colocado no YouTube, porém
ressalte-se que não é nem de longe um campeão de visualizações.
E mesmo assim, sendo este video considerado a principal razão
da revolta que já causou inclusive a morte de um embaixador americano, veio a senhora
Hillary Clinton dizer que apesar de considerar o vídeo repulsivo nada poderia
fazer no sentido de proibir sua exibição uma vez que a Constituição americana
garante a liberdade de expressão.
Ótimo. Muito parecido com alguns discursos que a
gente ouve aqui no Brasil.
Mas o surpreendente veio logo a seguir: por
inciativa própria, o Google - proprietário do YouTube- retirou o vídeo do ar em
vários países árabes! Temos então que uma empresa privada resolveu fazer
censura colocando-se acima da soberania de vários países, quiçá ferindo as
Constituições de todos eles ! E determinando ela mesma o que os cidadãos de
uma parte considerável do mundo deve ou não deve assistir!
Alguns poderão dizer que foi um gesto benéfico na
direção da paz. Mas ora vejam se nem os Estados Unidos, useiro e vezeiro em
pisotear a soberania de nações mundo afora, topou censurar, como justificar
essa inciativa de uma empresa privada?
Sem querer polemizar, tem uma pergunta que não
pode deixar de ser feita: teria o Google a mesma atitude em relação a
exibição de qualquer vídeo na Europa ou nos Estados Unidos? Desconfio que não.
Como eu disse lá no inicio a discussão sobre
liberdade parece estar se tornando estéril ou no mínimo incompleta, senão
passar a incluir o poderio gigantesco de uns poucos sobre a comunicação global.
O que para muitos ainda parece impossível pode
estar se tornando uma triste realidade: a internet assim como todos os demais
meios de comunicação poderá ser também propriedade de uns poucos.
Aproveitemos enquanto dá. Pois pode ser que
venham dias em que nem esse modesto Saúva poderá ser escrito sem pedir
licença para algum senhor.
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