Sempre que o assunto é informação, cultura e
lazer via mídia, há um consenso sobre a indigência do que é divulgado na imprensa
escrita, falada e enxergada.
E é bem comum ouvir-se argumento de que é isso
que o povo quer ler, ouvir e ver.
O que muitas vezes dá a impressão é que há um
movimento não articulado e não declarado, porém convergente, de uma parte
significativa de todos os que lidam com informação e cultura, na direção de ou
manter o baixo nível informativo e cultural ou espetacularizar assuntos de
interesse de pequenos grupos.
Por estes dias o caso do julgamento da AP 470,
"mensalão", é um exemplo gritante de como os responsáveis pela
informação podem dirigir e pautar um assunto de acordo com seus interesses,
sendo que nesse caso o interesse é a acusar e condenar os opositores e nada
mais que isso.
O que salta aos olhos é o excessivo destaque para
a demonstração das maracutaias praticadas por um grupo de pessoas e suas
respectivas condenações, mas não se vê o debate sobre como isso aconteceu, que
oportunidades foram dadas para isso, e quais as possíveis soluções sobre como
evita-las no futuro.
Muito menos deixa-se entrever que se trata de
crimes feitos por um grupo de indivíduos que, embora abrigados sob um legenda
partidária, não tem o poder de conduzir todos os milhares de partidários e
simpatizantes da mesma legenda. Em outras palavras o que imprensa tem destacado
é algo como se havendo um corintiano bandido todos os demais corintianos são
bandidos. Eu aqui, esse pobre e pretencioso escriba, razoavelmente honesto e
cumpridor dos meus deveres já estou começando a ter vergonha de dizer que sou
eleitor do PT sem ser olhado como bandido, inclusive por familiares.
E ontem em São Paulo, no Rodoanel, aconteceu um
protesto de moradores de um bairro marginal a esta via, protesto em que aqueles
moradores queriam chamar a atenção para seus problemas de moradia.
E a repórter que dava a noticia teve a cara de
pau de dizer que não sabia a razão do protesto, mas que o congestionamento
causado era enorme e que os motoristas no local tinham aquela manhã muito
tumultuada por conta do tal protesto. E só isso e nada mais. (Nesse momento
vale lembrar que 06 dias por ano uma das pistas da marginal do Tiete, na mesma
cidade de São Paulo, fica fechada para dar espaço para Formula Indy e a TV não
mostra motoristas indignados com a confusão no transito.)
Fatos como o protesto dos moradores merecem
reflexão um tanto mais profunda de toda a sociedade. Não é o caso de apenas
olharmos para a justificada raiva daqueles que tiveram que se atrasar para seus
compromissos por conta do congestionamento, mas em especial é necessário chamar
para o debate os responsáveis pelas politicas habitacionais de todas as esferas
e saber que providencias podem ser tomadas para resolver o problema. E cabe aos
jornais e televisões promoverem esses debates e não tratarem o assunto apenas
como mais uma confusão no transito.
Se nestes dois exemplos podemos perceber a
manipulação do que realmente importa como informação e noticia para a população
a mesma coisa se dá nas informações e noticias cotidianas da mídia em geral.
Será que não dá ao menos uma ou duas vezes por
semana em horário nobre exibir a discografia de um Jobim ou de um Chico Buarque?
Não será possível ao menos uma vez ou duas por mês exibir a biografia de
um Drummond ou de um Fernando Pessoa? E que tal debates públicos sobre as
demandas das populações locais, do país e do mundo com a presença de não só as
autoridades envolvidas mas também técnicos, estudiosos e todos os diretamente
interessados?
Ao invés de encherem nossas cabeças de Hulks,
Datenas e seus assemelhados?
Dá, claro que dá. Mas da mesma forma que não
interessa debater sobre mecanismos que detenham a corrupção e do mesmo jeito
que não interessa saber as razões que fazem pessoas interditarem importante via
de transito, também não interessa entregar aos indivíduos cultura, lazer e
informação que os levem a formar juízos sobre si mesmos e sobre tudo o mais que
o cerca.
A informação e a cultura são bens da humanidade.
E como tal devem ser minimamente protegidos e o seu acesso garantido pelos
governos a todos os cidadãos. Negar cultura e em especial a informação é roubar
a verdade. E roubo é crime.
Governos que não tomam nenhuma atitude com as
centenas de roubos da verdade cometidos diariamente pelos veículos de
comunicação em geral são coautores destes crimes.
Governos inertes diante das calunias, difamações
e distorções ditas diariamente na mídia em lugar da verdade deixam a impressão
de que tem coisas a esconder.
Governos que concordam em ver a população tendo
seus cérebros embotados pelos eternos e
repetitivos enredos de novelas, em cujo universo o mundo se resume apenas em
mocinhos e bandidos, e por cínicos Gugus travestidos de Robin Woods, são governos
que não querem promover em seu país a erradicação de uma outra miséria, quem
sabe tão fatal quanto a miséria de bens materiais, que nasce da carência de
cultura e informação.
Excelente, pai!
ResponderExcluirTambém vimos, estarrecidos, essa matéria sobre os protestos no Rodoanel.
Parece que, de pouquinho em pouquinho, a imprensa cumpre a vocação de se tornar espelho de uma sociedade cujos interesses não vão além do privado.
Vamos mal...muito mal...
Pois é Lê. Há que se debater e exigir que se pare com esse trololó de que a TV exibe o que ser quer ver. Uma ova! Isso é desejo da manutenção do status quo e nada mais.
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