Ladrões também namoram. Devido a ocorrência
de arrastões praticados por ladrões em restaurantes de alguns points
badalados da capital paulistana, veio a publico o sr governador Alckmin na véspera
do dia 12 para anunciar números nada desprezíveis de soldados, viaturas,
motocicletas, cavalaria e demais itens da parafernália da segurança pública que
seriam colocados a disposição do publico na noite do dia dos namorados a fim de
evitar novas ocorrências de assaltos. Na lógica do governador e de seus
auxiliares os ladrões seriam atraídos pelo movimento anormal daquele dia a fim
de obterem um faturamento extra e assim, com o reforço da segurança, o povo
poderia namorar a vontade, pois estariam livres de ladrões. Primeira besteira:
ladrões roubam em todos os 365 dias do ano assim como se namora também,
concentrar um esforço de segurança em um dia só, permite a leitura contrária de
que em outros dias a coisa é bem precária. Segunda besteira: ao fazer o tal
anuncio sr Alckmin convidou os ladrões a ficarem em casa naquela noite com suas
namoradas e voltarem no dia seguinte, quando estaria tudo liberado novamente.
Na minha terra medidas assim chamam-se tapar o sol com a peneira.
Usurpando o direito à vida. Nossa constituição
determina em seu artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do
estado. Ter saúde implica em manter a vida e vice-versa. O que se vê, no
entanto é que o Estado de maneira recorrente e já histórica tem alegado
dificuldades financeiras para justificar a precariedade do serviço publico de
saúde e, agindo assim, coloca em risco e de maneira generalizada a saúde e a
vida de toda a população. Nestes últimos dias o sr Alckmin foi as raias do
pouco caso com a vida e buscou a ajuda da Justiça para isentar o Estado de São
Paulo da obrigação de fornecer remédios para portadores de doenças raras cujo
tratamento exige medicamentos importados. A alegação fria e exclusivamente
financista é de que o Estado “gasta” (aspas minhas, pois não entendo isso como
gasto) R$ 700 milhões por ano nessa rubrica (alguém precisa conferir isso,
pois por dia dá R$ 1.917.808,21 o que eu acho
um tanto demais) e que tal valor daria para construir um hospital por mês.
Primeiro é bom falar da balela de construir um
hospital por mês. Não construiriam por que é inviável e desnecessário. Além
disso, um dos males dos governos brasileiros passa pelo péssimo gerenciamento
de receitas. Dinheiro nós temos. O que ocorre é desperdício, erro de estabelecimento
de prioridades, falta de planejamento, além de jogadas meramente marketeiras.
Para não falar de suborno, corrupção e outras cositas mas.
Segundo é bom falar da sempre solicita imprensa
paulistana que de uma hora para outra deu de exibir reportagens sobre esse
assunto, sempre ressaltando o alto custo desse procedimento. E se a imprensa
encampou uma ideia do Governo do Estado de São Paulo é bom ficar de olho, pois
coisa boa para a população não é.
E por ultimo, porém o mais importante, por trás
dessa atitude do governador está uma afronta à vida. Em outras palavras o que o
sr governador diz é que a economia deve se sobrepor ao mais comezinho dos
direitos civis que é ficar vivo. O governador declara que cada cidadão que se
vire para tratar de sua doença. Quem mandou desenvolver um mal cujo tratamento
é mais caro? O que demonstra pela enésima vez que o pensamento do sr Alckmin,
um legitimo liberal tucano, é que nem o SUS deveria existir. Ou melhor, ele
detesta o SUS.
O ovo ou a galinha? Nos últimos dias
ficamos sabendo do triste episódio de uma esposa que decapitou seu marido e o
esquartejou em seguida, motivada primeira por alguma insanidade insondável e
depois por forte ciúme do cônjuge. A esposa, desconfiada da infidelidade do
marido, contratou um detetive que o flagrou e o filmou encontrando-se com outra
mulher. O inicio de tudo é simples: em algum momento a esposa julgou ter indícios
- indícios que só ela conheceria - suficientes sobre a infidelidade do marido e
partiu para confirmar sua desconfiança, contratou o detetive e soube da verdade.
E nestes mesmos dias fomos todos surpreendidos
com a decisão do Desembargador Tourinho de tornar nulas todas as escutas telefônicas
efetuadas pela PF na Operação Monte Carlo, alegando que não havia indícios
suficientes para que fossem permitidas as tais escutas. O que salta aos olhos é
o desafio que o desembargador faz ao juiz que autorizou as escutas. Parece
haver muito mais subjetividade do que concretude na interpretação do que são indícios.
Querer dizer que não havia indícios de crime diante das retumbantes revelações
das ilegalidades trazidas pela policia, demonstra um modo de pensar muito
especial sobre o caso que é bom nem comentar.
Fosse o sr Tourinho uma esposa traída ele
esperaria antes que aparecessem manchas de batom pelo avesso da cueca do marido
ou que a amante frequentasse sua própria cama, para depois tomar
providencias sobre a suposta infidelidade. Ao que parece nosso desembargador
ainda se faz a velha e existencial pergunta sobre quem veio primeiro se o ovo
ou galinha e, não podendo responder, confunde a ordem do surgimento de indícios
e provas.
Indícios ou desconfianças são só isso mesmo: indícios
e desconfianças. E no caso de crimes cabe a policia investigar para buscar as
provas. Negar escutas telefônicas baseado em falta de indícios pode ser o
primeiro passo para acabar com exames de DNA, coletas de digitais, detectores
de mentira e tudo o mais que a policia usa para buscar provas que ajudem a
condenar criminosos. Até mesmo interrogatórios poderão ser nulos se forem
feitos sem indícios de que o interrogado cometeu crime.
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