Os antropólogos podem falar sobre isso muito melhor que eu, mas sei que todos os animais, entre eles nós humanos, precisam viver em grupos. E fico imaginando que quando ainda rabiscávamos as paredes das cavernas e sequer imaginávamos que um dia existiria o microondas já fazíamos questão de viver com alguém, provavelmente com nossos parentes. Depois ampliamos o grupo para fora da caverna e inventamos os vizinhos, as tribos, depois a vilas, as cidades, os países e finalmente os impérios.
E aqui estamos nós, nos dias de hoje, vivendo em um sem fim de grupos. Muitos semelhantes aos dos nossos antepassados, porém agora acrescidos de Associações, Ordens, Conselhos, Sindicatos, Organizações Mundiais e até Máfias. Todos, supostamente, abrigando pessoas com os mesmos interesses e atividades.
E nessa onda, ao mesmo tempo em que desenvolvemos o senso de solidariedade e fraternidade, também fizemos o contrário: aprendemos a avaliar e classificar os outros levando em conta os grupos a que pertencem. E vai dai que eu imagino que foi assim que fizemos nossos primeiros inimigos e inventamos a guerra. Mas passou o tempo e alguém deve ter descoberto que guerrear dava muito trabalho, sangrava e doía, então surgiu a tolerância. Deve ter sido assim que surgiram as assembléias, as mesas redondas, os atuais fóruns, e outros que tais. Mas não foi tão bom assim. Pois continuamos com nossa equivocada tendência de privilegiarmos e nos juntarmos apenas aos nossos iguais e repudiar os desiguais. E então se inventou outra guerra que é a do preconceito, da discriminação, do isolamento.
A ordem vigente é: ou você participa de alguma associação, nem que seja a do clubinho da esquina, ou você tem uma dificuldade danada de ter voz e vez na construção das coisas a sua volta. Sem ter carteirinha de alguma coisa você está exposto a toda espécie de exclusões. É sério.
Os ventos da internet são um tantinho benfazejos e parecem soprar a favor dos milhões de anônimos que querem mandar seu recado. Mas cuidemos, pois eis que aqui também nesse espaço supostamente incolor, inodoro e insípido no que diz respeito as cores ideológicas, religiosas e futebolísticas, parece que já tem uns e outros famintos de montarem seus grupos, suas comunidades, e através deles discriminar, excluir e calar.
Da mesma forma que as mídias tradicionais inventaram que "a arte imita a vida" para justificarem atitudes nem sempre semeadoras da concórdia e da solidariedade, vemos agora uma parcela da população cibernética querendo criar algo como o " virtual imita o real", perdendo assim uma enorme oportunidade de acabar definitivamente com todas as barreiras, fronteiras, gavetas e escaninhos que só fazem segregar.
E tem os Beatles e suas músicas. Que, no que diz respeito a mim, não param nunca de embalar meus pensamentos e muitas das vezes me fazem perguntas que tenho receio de responder. É o caso de Nowhere Man, que descreve um homem solitário meio perdido em seus projetos, talvez sem ninguém para apoia-los. E os quatro cabeludos de Liverpool perguntam: ele não é um pouco parecido com você e eu?
Fiquem em paz
Jonas
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