Não acredito que a vida humana e seus comportamentos possam ser pontuados, datados e terem seus começos marcados em um tempo exato.
Acredito mais naquela frase de Newton que diz que pra cada ação uma reação e, sendo assim, vejo tudo como um processo seja evolutivo ou não, seja apenas de mudanças para o lado ou para trás, mas acho mesmo que um tudo é consequência de outro tudo e que a vida é uma grande rede tecida simultaneamente em todos os cantos do universo.
As vezes forçamos a barra para uma determinada coisa acontecer hoje e nos frustramos se não acontece, ao mesmo tempo nos perguntamos por que acontecem coisas não previstas. E no dia seguinte vemos que o que queríamos nem era assim tão importante e o imprevisível é que se tornou o desejável.
Mas estou divagando.
O que quero falar é sobre nosso momento político ( político é modo de dizer pois se parece muito mais com exercício de ódios e escárnios, calunias e hipocrisias ) e não me parece possível, como eu já disse no inicio, precisar o momento em que esta beligerância, este sentimento do "nós contra eles", este Fla x Flu de quem rouba mais, começou. Isto vem evidentemente de um processo ao longo do tempo em que muitos agentes da Republica, da Sociedade Civil, das Igrejas, da grande Imprensa foram tornando cada vez mais raso o debate sobre os destinos da Nação, cada um autoproclamando-se o dono da moral e dos bons costumes, sendo que esta moral e estes bons costumes é sempre o "outro" que despreza.
Eis que no entanto a revista Época da semana passada resolve pontuar sobre a razão de toda esta animosidade, em lugar de debate, atribuindo à ala progressista da política nacional as agressões verbais e até físicas que estamos assistindo. A revista acusa os ditos blogs sujos de receberem verbas oficiais para incendiar o debate, e esculhambar a tudo e a todos.
O argumento das verbas é idiota. Verba por verba ( se é que os blogs sujos a recebem ) a mídia corporativa recebe bilhões por ano. Sem anuncio oficiais a mídia oposicionista não existiria tal e qual ela existe. Além disso os blogs sujos não devem ter nem 10% de audiência da mídia corporativa o que torna sua capacidade de influencia nos debates praticamente nula.Mas deixemos isso pra lá.
E como era de se esperar essa tese começa a ganhar força entre os não-pensantes da manada chamada articulistas da grande imprensa e começam a pipocar argumentos semelhantes, ou seja de que a culpa de tudo é da situação e seus simpatizantes. Dora Kramer em O Globo de hoje também quer pontuar o inicio do escracho nacional no momento em que Lula recém-empossado presidente posou para fotos usando um boné do MST o que segundo ela é ( estou resumindo ) um movimento violento. Dora Kramer não sabe ou finge não saber nada sobre o MST.
Então já que é assim esse impertinente e modesto blogueiro ( gratuito ) também pode tentar pontuar o inicio da esculhambação política brasileira no exato momento do golpe de 1964.
Duas ações da ditadura militar poderiam ser fatores determinantes para chegarmos ao ponto em que chegamos em nosso pobre debate político:
- O fechamento do Congresso Nacional e a cassação de praticamente todos os integrantes daquela Casa passando a mensagem subliminar que uma Nação não precisa de parlamento e parlamentares e que as ideologias políticas são desnecessárias para um povo. Vide nos dias de hoje a repulsa aos partidos políticos.
- A censura radical exercida nas redações de jornais e tevês impondo o pensamento único para todo o país e criando gerações de analfabetos políticos e ignorantes a respeito de como funciona uma democracia. Vide, mais uma vez, a pouca disposição para mudar tudo-isso-que-esta-ai via debate democrático.
A "saudade" que mesmo os muito jovens nos dias sentem da ditadura pode explicar essa preguiça de pensar a política e dela tomar parte. Fica bem mais resolver na base do você-é-fedapê-e-tem-mais-é-que-levar-porrada. Não era assim na ditadura?
É sempre bom lembrar que a censura ditatorial incorporou-se ao DNA da grande mídia corporativa o que faz com que nos dias de hoje existam tantas distorções nas informações transmitidas pelos chamados órgãos de imprensa. Não é a toa que, de acordo com que todos ficamos sabendo, o sr Ali Kamel - o todo-poderoso do jornalismo Global- distribuiu memorando para suas filiais e associadas recomendando que evitem pautas positivas a respeito da Copa do Mundo, com o claro objetivo de ajudar a esculhambar um governo democraticamente eleito.
Então é isso. Joga-se mais uma partida desse interminável jogo do você-fez-eu-não-fiz em lugar de deitar uma olhar menos raivoso e rancoroso na busca de melhorar a cultura política do Brasil e, por tabela, construir uma Nação digna deste nome.
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