sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vivamos e deixemos viver.

Já tive oportunidade de dizer por aqui que sempre acreditei que a essencia da natureza humana é a mesma desde que o homem caminha sobre a terra. Digo essencia querendo dizer das emoções e sensações humanas. Sinto a mesma fome, o mesmo frio e o mesmo sono que o homem sempre sentiu. Sinto o mesmo amor e a mesma saudade que sentiam meus antepassados lá nas suas cavernas. Mudou apenas a forma de saciar a fome, aquecer-se do frio e repousar para dormir. Posso lidar com o amor e a saudade de formas diferentes, mas os impulsos são os mesmos.

Apesar de todo o avanço do conhecimento humano, apesar de todas as descobertas feitas pelo homem, nossa carne, nossos ossos, nossas fibras e nervos, que são o invólucro do nosso espirito ou que nome tenha aquilo que anima a nossa vida, tudo é feito da mesma matéria desde sempre.

No entanto a medida que avançamos no conhecimento e criamos novas condições de vida, a impressão que temos é que somos novos seres. Parece que tudo que sentiamos ontem não sentimos mais hoje.

Cada vez mais procuramos diferentes soluções técnicas para coisas do espirito, como se as coisas do espirito estivessem em constante mudança.

Uma das coisas que mais me chama atenção nos ultimos tempos é julgar como virtudes as diversas fases da vida, a infancia, a adolescencia e a velhice. O excessivo tratamento pontual das fases da vida passa a impressão que não se está falando de seres humanos  construidos ao longo do tempo, cuja construção aliás só termina no dia da morte. Lidamos com as crianças como se fossem perfeitas e acabadas. Do mesmo jeito com jovens e idosos. Não estou falando dos adultos. Pois esses é quem são os sabichões de tudo, e vivem enfiando o pé na jaca, inclusive eu mesmo.

Todo dia surgem novos conceitos técnicos para tratar de um adolescente como se a adolescencia fosse algo pontual na vida, que tem um começo e fim estanques e determinados no tempo, sem um antes e sem um depois, como se não fosse apenas uma passagem. 

Digo tudo isso por que hoje tomei conhecimento de que retomaram estudos sobre nosso sistema educacional que ao que me consta já mudou uma infinidade de vezes nos ultimos anos. O ponto central é sobre a reprovação ou não dos alunos nos primeiros anos escolares. E descobriram que a aprovação automatica em vigor nos dias de hoje não resolveu o problema da evasão escolar. Coisa que achavam que iria resolver quando implantaram o metodo atual. 

E ouvi todo tipo de argumentos muitos deles girando em torno dos efeitos emocionais na criança ao repetir de ano. Como se logo depois, ao longo de sua vida a criança, então adulta, não vá passar por todo tipo de vitórias e derrotas, e não vá viver a tal da meritocracia.

Não sei não, mas nessa história de evasão escolar o buraco é mais embaixo. Passa por condições economicas das familias, por experiencias domésticas vividas pelas crianças. Passa pelas instalações da escola, pelo material didático, pela preparo e dedicação de todos os profissionais envolvidos no ensino. Enfim é um emaranhado de assuntos que não podem ser disfarçados na mera "premiação" de um individuo apenas por ele ser uma criança.

Acho que está na hora de compreendermos que não existem soluções técnicas para o o que sentimos. A soluções técnicas devem caminhar no sentido, isso sim, de proporcionar a todos nós, vivermos nossas sensações, emoções e experiencias humanas em sua plenitude.

Decepcionar-se, frustrar-se, recomeçar do zero, são sensações e experiencias pelas quais todos nós passamos desde que nascemos, não há como evita-las. Deixemos que nossas crianças vivam isso, e apenas cuidemos para que seja um aprendizado benéfico. Tratemos apenas de ajuda-las a enfrentar tudo isso com dignidade.

E em mim, ao escrever sobre isso, vieram as inevitáveis comparações com o passado. E penso que nada melhor que a poesia para nos fazer lembrar de uma porção coisas boas, que acabaram sendo esquecidas no meio da tal da modernidade e das "soluções" que se sobrepõem em nossas vidas, dia após dia.

Fiquem em paz,

Jonas

Esse video foi uma dica da @wwwcristie

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