Dentre as criticas que se ouve por ai a respeito da globalização - leia-se neoliberalismo - a mais comum é a que diz respeito ao enriquecimento cada vez maior de um grupo cada vez menor de pessoas. Diz-se também por ai que uma das práticas mais comuns de governos seduzidos pela tal da globalização/neoliberalismo é o Estado minimo, ou seja, a retirada do Estado em especial na defesa daquilo que diz respeito ao que é mais precioso aos interesses dos individuos que são o bem estar, a saúde, a integridade fisica e psicológica, a cultura regional, as crenças, as ideologias e os códigos de comportamento.
Sociedades inteiras são sutilmente levadas a esquecer de suas identidades e adotam usos e costumes nivelados com o resto do mundo inclusive, e especialmente, hábitos de consumo. E por que? Ora a Ford ou a Nokia não podem perder tempo nem dinheiro em análises sobre as distintas preferencias entre consumidores brasileiros, chineses ou canadenses. Quanto poderia custar em mão de obra engenheiros, técnicos, desenhistas e operários no desenvolvimento de diversos modelos de carros e celulares que poderiam ser necessários para satisfazer cada região do planeta?
Mas não sou muito bom - aliás em nem sei em que sou bom - em análises economicas, de desenvolvimento ou de modelos de governo e coisas desses tipo. Para mim é mais fácil falar do aspecto humano, ou desumano, da globalização/neoliberalismo ao redor do mundo.
A sensação que tenho é que existem perdas fisicas e espirituais impercetiveis e por isso mesmo incálculaveis para os seres humanos. Todo esse processo de faz de conta da modernização global/neoliberal é apenas um verniz em cima do estrago na superficie da alma e do corpo humanos.
Vou dar dois exemplos que podem parecer pueris e posso ser condenado duramente por cita-los, mas corro o risco: perdemos o Saci para o Halloween e a música caipira para a sertaneja. Não tenho nada contra o Halloween ou a música sertaneja, mas tenho tudo a favor do Saci e da música caipira.
Alguém certamente pode fazer uma lista enorme que demonstrará essas trocas sem nenhum sentido que a necessidade de globalizar trouxe. Penso que culturas são para serem misturadas e não para eliminarem-se umas as outras.
A tal da globalização/neoliberalismo trouxe preço para tudo. Tudo pode ser comprado e vendido. Tudo tem um valor mensurável, perceptivel. E então único meio de acesso a qualquer coisa passou a ser através do dinheiro. ( lembremo-nos que o estado minimo dos neoliberais não presta nenhum serviço aos seus cidadãos).
E sendo assim o trabalho deixou de ser apenas o exercicio de uma atividade, da aplicação de alguma habilidade ou produção de riqueza para a coletividade. O trabalho transformou-se em necessidade vital para a sobrevivencia emocional também.
Alguém já chegou a dizer que sem o seu trabalho um homem não tem honra. Eu ouvi um antigo patrão meu perguntar a um colega meu, enquanto se discutia salários, quanto custava a dignidade dele. Sendo assim a honra e a dignidade de um homem passou a ter preço. E ter mais honra e dignidade pode significar ter que trabalhar mais para ganhar mais. E ganhar mais para que? Quem respondeu que é para consumir mais acaba de ganhar uma assinatura do Saúva inteiramente grátis!
E se podemos comprar honra e dignidade, também podemos comprar felicidade e todo tipo de sensações que fazem parte do feixe que é a vida humana.
Isso faz parte das perdas emocionais. E das perdas fisicas? Lá no Blog do Nassif foi publicado texto que fala a respeito do futuro dos alimentos, que é a cereja do bolo vistoso mas sem sabor do neoliberalismo.
São sete videos de um filme que faz uma investigação sobre o crime que é a manipulação genética de alimentos, quando essa manipulação não visa a democratização da distribuição de comida planeta afora mas, pelo contrário, prefere o aprisionamento ou patenteamento de algo que é de todos, pois faz parte da formação da Mãe Terra que de tudo nos provê e tudo nos dá graciosamente. Vejam os videos.
Fiquem em paz,
Jonas
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